segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Do escuro e sobre o medo


É que sábado passado acabou a luz.
Fazia tempo que isso não acontecia comigo, mas de fato faltou luz. Eram tipo 21:30 e eu estava terminando o jantar para iniciar a fase final da arrumação para meu último rock rockeira antes do vestibular - espero que o último vestibular. Antes de me converter definitivamente a vida reclusa de um vestibulando, tenho um último encontro fim de semana próximo. O tão esperado Rosa de Saron. Mas não vou entrar no mérito do assunto agora.

O que quero que fique claro é: Sábado tudo ficou escuro...
Tirando a parte positiva que foi que eu descobri que consigo me maquiar usando apenas uma lanterna e um pouquinho de criatividade ou que eu parei pra ver a lua, meu bairro estava escuro!

Olhando janela a fora, só via um ou outro farol de carro passando... de repente algo mais claro: um ônibus passou, muito cheio, cheio de medo.
Imagino que todos que se encontravam na rua correram pro ponto e pegaram o primeiro ônibus que ia pra qualquer lugar.

Senti o medo das pessoas.
Logo que tudo se apagou (a segunda leva de pizzas estava sendo posta no forno), ouvi duas coisas que me despertaram o sentimento de medo nas outras pessoas: a primeira, um vidro sendo quebrado; a segunda uma mulher gritando. Minutos depois a guarda de rua já estava lá apitando pra controlar o tráfego confuso de faróis, digo, carros.

Luz.
Aquilo que faltou no sábado.
A ausência que trouxe medo e sentimento de vazio... Em cima do armário o fim da vela iluminava a sala. Festival de piadas, risos, escolha dos óculos de sol para a festa, mas ainda estava escuro...

Então resolvi filosofar sobre a luz. No que que os tempos atuais (se é que posso chamá-los modernos) fizeram com a luz. Viver tornou-se praticamente impossível, tudo fica estranhamente vulnerável e as coisas correm o risco de não acontecerem quando está escuro. As vezes elas até acontecem, mas não era o caso.

Senti o mundo como se tivesse novamente cinco anos. Seria impossível tentar reviver o que foi que aconteceu sábado quando acabou a luz. Só se o breu viesse de novo e de novo. Luzes apagadas, cortinas e portas fechadas não trazem o mesmo efeito. Você sabe que ainda há luz.
Mas sábado, sábado não tinha Luz.

Luz.
Foi o que voltou quando já estava na metade das escadas do meu prédio.
Foi o que voltou quando eu já fugia da escuridão em busca de um escuro coletivo.
Foi o que voltou quando eu já fugia talvez de mim...

0 olhar(es):