segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Momento madrinha-coração-mole


Desde os quatro anos Dani sempre repete esta pergunta: "madrinha, o que é que você faz mesmo?". E sempre fica muito eufórico quando respondo que meu trabalho é descobrir/ ajudar a descobrir coisas que ninguém sabe ainda. Expliquei pra ele que fazer ciência é estudar bastante e ser curioso o suficiente para contribuir com algo mais.

Ele é muito curioso e esperto, gosta de aprender coisas novas, conversa sobre essas coisas comigo e até já disse que um dia vai ser cientista como eu. Já me sinto uma vitoriosa por ter conseguido explicar com clareza e de forma cativante o que é fazer ciência para uma criança, mas hoje teve mais.

Agora, com quase sete, depois de me contar que já sabia a tabuada de 1, 2, 3 e 10, ele repetiu a pergunta de sempre, mas obteve outra resposta. Disse a ele que meu trabalho é ajudar as pessoas que estão com algum problema ou dificuldade, a resolver as coisas que estão incomodando dentro da cabeça. Ele me perguntou se eu tinha parado de fazer pesquisa ("como assim, você largou aquele trabalho super legal???"), e eu expliquei que tinha terminado o mestrado, estou concluindo algumas coisas e que agora tenho outra ocupação.

Aí ele chegou pertinho, em tom de confiança e me disse: "então, madrinha, eu sempre vou te procurar quando eu tiver algum problema". Voltei pra casa me sentindo uma madrinha mais completa.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

É preciso dar vazão aos sentimentos!

Eu me lembro de cada olhar, de cada gesto e cada palavra. Lembro como você articulava essas três coisas e lembro como meu olhos brilhavam e o sorriso vinha fácil. Eu acreditava nas suas palavras e me sentia plena.

Nunca duvidei da sinceridade de suas palavras, mas me questiono sobre o valor da sua intensidade. Já não sou inocente de acreditar numa força igual que vai e volta. Não... Cada um dá aquilo que tem e como se sente melhor para fazê-lo. Eu, por exemplo, sou daquelas que se tivesse mais alma pra dar, daria. Nunca tive medo de declarar meus afetos e dá-los por completo. Não deixo que o orgulho seja maior que a vontade que sinto. Hoje vejo que muito do que foi dito ficou jogado ao vento.

Pois lembra como eu me envolvia em seus braços e ali, apoiada no seu peito eu dizia ter encontrado meu lugar no mundo? Você parecia gostar de ouvir isso e eu me sentia segura ao me encontrar ali. Era aquela sensação gostosa de não importa o que mais fosse, eu estava ali, onde e com quem mais importava. Acontece que um dia você foi embora, não que eu não soubesse que um dia fosse acontecer, mas era daquelas coisas que a gente acha que só vai acontecer muito tempo depois, porque tudo até ali não fora suficiente ainda. Bem, você foi embora, mas meu lugar no mundo continuou sendo ali, e pra mim estava sempre bom (mesmo o ali já não sendo tão mais ali), até que um dia eu percebi que eu era uma "sem-teto" no lugar que eu escolhi viver,

De uma hora pra outra, a água da chuva, que sempre foi o meu brinquedo, se tornou uma tempestade e eu não tinha onde tomar um banho e tomar um chocolate quente. Eu estava ali, buscando meu lugar no mundo e me percebi ao relento. Foi difícil fugir do meu lugar no mundo. Hoje vivo sob o teto de um lugar que não é meu, mas quando vem a tempestade em minha vida, me sinto protegida.

domingo, 20 de março de 2016

Já faz uns dias que você me invadiu de novo. Costumava sentir uma falta alegre; eu sorria ao lembrar de você. Com o tempo a saudade foi se tornando um vazio insuportável, e quase todas as vezes eu chorei, até que resolvi que não queira mais. Lutei incansavelmente contra mim e consegui te esquecer. Até que você chegou perto uma vez.

Na ocasião fiquei estarrecida, não soube agir, senti o nó crescer na minha garganta e só pude lamentar a surpresa desagradável. Não digo desagradável pela sua volta repentina, mas pelo jeito que fez acontecer. Por dias fiquei cantando aquela música que fala sobre a surpresa da sua volta e de novo eu chorei.

Estava aberta a temporada da sua volta e eu não estava preparada. Semanas depois, outra surpresa, eu te vi. Eu não estava preparada pra te ver, não soube agir. Senti raiva, segurei o choro, tentei ignorar.

Hoje fui num dos nossos lugares, tanta coisa passou na minha cabeça... Fomos felizes ali, você lembra? Você recebeu uma boa notícia e estava radiante. Foi a primeira vez que te vi leve de verdade. O tempo todo eu quis que você estivesse ali, quis dizer que sentia sua falta, mas fui forte. Sei que pra você não faz diferença e sei que pra mim deveria ser assim também.

Não sei onde tudo desandou, mas tenho medo de um dia você se materializar na minha frente, só nós dois, sozinhos, como costumava ser. Como era quando eu contava os dias. Não quero esquecer como esse fim amargo me fez mal, mas eu sinto que preciso.