sábado, 23 de março de 2013

Vênus

"Não falo do amor romântico,
Aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão, paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
E pensam que o amor é alguma coisa
Que pode ser definida, explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro,
Antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta? O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
O amor será sempre o desconhecido,
A força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido, quer ser violado,
Quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
Decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
E nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor e não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha
E nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
Como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa,
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio
Porque somos o alimento preferido do amor,
Se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
Me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a vida é feita.
Ou melhor, só se vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto."
(Paulinho Moska - Vênus)

quarta-feira, 20 de março de 2013

Apaixonando-se viu de longe o que talvez não seria. Pensou estar apaixonado, e por isso acabou se apaixonando. Não tinha razão. Não tinha nem um motivo irracional.

Sentindo-se amedrontado, fugiu. De que? Fugas tão constantes, tão incessantes, que não tornam as coisas nem um pouco interessantes, mas mesmo assim foge. É um gosto bom, não é? Poder ser alcançado, mas de repente, deixam-te escapar. Por que? É a pergunta que agora faz antes de dormir. Se era tão especial como foi dito, porque permitiram que fugisse?

É estranho, não é? Qual será que foi o gosto pra ela? Como será que estava sua pele? E o que será que ela escondeu eu seu último sorriso... Nunca saberá, e você sabe disso. Agora te incomoda, não é? Como pensou que seria? Às vezes, só o que não percebemos é que acreditando ser o fugitivo muitas coisas escapam de nós. Agora você sentiu a angústia, não é? Posso ver nos seus olhos. Pude sentir a cada  pergunta feita, como uma faca afiada.

Pareço deliciar-me com isso, mas não. Estou apenas percebendo. E às vezes a gente vê algo que surpreenderia contar. Ai a gente pergunta, que é pra ver se você também sabe. Mas isso é detalhe. Ainda penso na fuga. Eu gosto de escorregar. Gosto de seguir pistas, pegar detalhes. Gosto de encontrar fugitivos.