segunda-feira, 11 de julho de 2011

A menina triste

Eu queria escrever sobre uma menina triste...
Sempre tive esse desejo, mas nunca quis fazer um auto-retrato. E é por isso que não escrevo também agora.
Não que eu seja a menina triste, não sou. Mas ao mesmo tempo, somos um pedacinho de cada personagem que criamos. A moça na sala de espera, o corpo, o negociador de almas, o estranho, o amante e o amado, Melissa, e tantas coisas mais, que eu nem sei quem fui.
Mas não quero ser a menina triste.

Hoje vi sorrisos nos lábios de quem não mentia com os olhos. Tinha um brilho de tristeza naquelas jabuticabas, e eu sei como é isso.
Não que tenha sido eu ao me olhar pelo espelho, mas já me vi assim, já me senti assim.

Hoje não é um dia frio, mas está longe de ser quente.
Hoje é um dia que eu podia estar sorrindo, mas não vou chorar.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Negociador de almas

Ei,
Um segundo da sua atenção, por favor?
Um pedaço da sua alma...
É que eu quero levar de recordação.
Não. Não se assuste. Não saia correndo, e pelo amor de Deus, não chame a polícia.
Ela deve estar de ocupando de casos mais graves que esses, e se te importuno, é por um instante.
Boa noite, minha senhora, boa noite meu senhor, vocês têm uma linda menina.
Não me leve a mal.
Não quero o seu colar.
Não quero o que tem em sua carteira.
Só quero o seu olhar.
Vou pegar um pedaço da sua alma,
Fique tranquilo, não vai doer.
Olhe para mim...
Não tenha medo.
Posso por outra no lugar. É isso que você quer?
Eu posso reparar o dano que fiz em sua alma.
Posso fazer com que não se lembre de mim.
É isso mesmo que você quer?
Mas ora, vamos. Pare de chorar!
Não estou lhe furtando, não estou lhe maltratando, só estou pedindo um pedido sengelo.
Se te devoro, me perdoe, o trago que eu trouxe não tem intenção de machucar.
Olhe para mim...
Não me negues. Não te negues.
O que você tem a perder?
Vais ganhar uma alma nova, e nem vai se lembrar de nada.
Eu não te obriguei vir até aqui.
Agora deixe-me arrancar um pedacinho... já posso sentir o sabor.
Tá quase lá, quase pronto, finalmente.
Muito obrigado pelo pedaço de si. Meu pedaço ficou muito bom em você.
Agora deixe-me ver...
De tudo logo vai esquecer.
Oh sim, não vai perceber o que mudou.
Não, ninguém pode ver. E de qualquer forma, está aí desde criancinha, você não se lembra? (gestos)
Pronto.
Está livre para partir.
Não se esqueça de me indicar aos seus amigos.
Volte quando se lembrar.