quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Tenho pensado muito durante os últimos dias sobre o que discutimos numa das aulas de Teoria da Personalidade I dias atrás. É que vem exatamente de encontro com o que eu pensava muito antes de saber que existia física, ainda mais quântica.

Durante muito tempo pensei que meus pensamentos infantis só faziam parte do meu imaginário egocêntrico, mas tenho pensado, e em parte, eu tinha até razão.

Diz respeito a como que coisas e pessoas passam a existir - e em versão adulta - de repente.
É como falar que milhares de coisas existem, mesmo que eu não tenha conhecimento. Tudo bem, não posso conhecer tudo, mas o que não conheço, NÃO EXISTE!

Então eu começo a pensar nisso: Como de repente as pessoas começam a existir. Primeiro é um rosto que eu nunca havia visto, um olhar diferente, uma pessoa que me cruzou a rua por um instante existiu pra mim, depois, não existe mais.
Aí por um motivo qualquer, alguma coisa te faz conhecer de fato essa pessoa e ela passa a existir de fato. Passo a ter ciência de sua forma, sua voz, seu pensamento... enfim, tenho um arranjo de características que me falam de um único ser - um indivíduo.

Penso nas pessoas que morrem em acidentes, aqueles feios, de carro ou de avião; principalmente os de carro em autoestradas. Quanta gente que para para ver a morte de alguém que não existe. Pra que, me pergunto, pra que? - sempre me perguntei. É o gosto de ver a desgraça alheia? É prestar uma homenagem a quem não se conheceu?

Penso nas minhas aulas de anatomia, nas que tive, nas que ajudo, nas peças anatomicas.
Sim, é um cadáver. É alguém que não existia (no MEU universo) e passou a existir como "objeto" agora. É um corpo sem vida, pra mim, sem história. Não desconsidero, entretanto, que nunca existiu vida naquele corpo, que aquele cadáver não tinha uma história, não tinha amigos, família. Mas qual diferença isso me faz agora?

Adiantaria sentar ao lado da bancada e começar a chorar e me encher de tristeza porque tem um morto à minha frente? Adiantaria eu frear o meu carro e passar devagarzinho, olhando, procurando o rosto da vítima, só para chorar pela aquela fatídica cena de um morto todo ferido?

Mas eu quero voltar às pessoas que passaram a existir ainda com vida.
Não é estranho tudo isso?
Pessoas que há anos vejo semanalmente, diariamente e nem me dou conta, não existem pra mim. Não me adianta falar em Dona Ana Maria Beatriz Alvez da Cruz Faria, ela não existe (na verdade, em meu imaginário agora ela passa a existir, no sentinto que crio um corpo e um rosto para ela). Lembro-me de uma dessas pessoas que já falei, que a gente percebe de repente, e um rosto desconhecido passa a fazer parte do seu leque de pensamentos. Daí você percebe que ela ten um olhar especial, único, tem corpo, forma. Durante muito tempo foi exatamente isso. Uma pessoa que passou a existir e tomou forma.
Porém, ainda não tinha nome, endereço, voz, história. Mas como é que alguém passa a existir sem referências? Dei-lhe um nome, um endereço e uma história. O que me valeu até essa pessoa tornar-se de fato real.

Tê-la como real - ser materializado - durante muito tempo me trouxe certa euforia, mas como tudo na minha vida, passou. Mas acho um exemplo muito interessante esse, de como a pessoa vai tomando existência aos poucos.

Quanto minha visão egocêntrica de criança, de tudo não estava errada. Nem certa! Mas criei muita coisa!

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